sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Entrevista: Projeto Social Emanuel

Foto: Lucas Filho


No último dia 03 de fevereiro fui visitar um projeto social, o Centro de Recuperação de Dependentes Químicos Emanuel no bairro da Pavuna em Pacatuba-CE. O que descobri é que temos pessoas que ajudam, e que, infelizmente, o amor de muitos outros está realmente esfriando.

Fui recebido pelo Pastor Pedro Nascimento, 38 anos, casado, 02 filhos, com cerca de 19 anos na fé e desses, 15 anos como pastor. Ele pastoreia duas igrejas, uma é a Igreja Evangélica do Amor de Deus, localizada na Rua 68, nº 151 no Jereissate II.

O projeto foi criado em 2008. Em uma propriedade alugada, a vida por lá é um misto de retiro espiritual e quartel. No dia de nossa visita, o projeto abrigava 13 irmãos. Os candidatos ao projeto são muitas vezes recolhidos das ruas. Já outras vezes o Pr Pedro oferece vagas para um programa de TV que então encaminha os jovens para lá quando há vagas. Embora tenha atendido também a meninas e mulheres dependentes de drogas e/ ou álcool, o projeto só recebe hoje jovens do sexo masculino entre 13 e 50 anos.
"Acolhemos aquele que quer ajuda" - diz o Pr. Pedro quando perguntado se haveria algum outro pré-requisito.

"Os jovens ficam aqui cerca de 07 meses, mas apenas 10% ficam até o final do tratamento", lamenta o Pr. Pedro que olha para os jovens enquanto caminhávamos para conhecer a cozinha.


Fogão a lenha

Se você já foi para um bom restaurante regional deve então ter apreciado uma boa comida feita em fogão a lenha. O que para alguns é luxo para o projeto é necessidade. "Catamos algumas madeiras de móveis velhos e usamos como lenha pois o gás de cozinha é muito caro." Comenta o Pr. Pedro.

Sem apoio do governo estadual ou municipal - quem dirá do federal, no projeto encontramos um galinheiro onde - na hora da necessidade, os frangos são abatidos. Comprados ainda como pintos,os frangos e as galinhas produzem ovos que estão na refeição de muitos pratos do projeto. O pastor Pedro disse que "dói" quando tem que matar um frango, pois isto é sinal que o mês foi apertado. Preferia comer mortadela, um prato mais barato e que daria para alimentar aos jovens em maior quantidade mas falta muita coisa aqui.

Então vi uma cena que me deixou feliz. Em fila para o lanche da tarde, cada uma dos irmãos tinha que recitar um versículo da Bíblia para poder receber a merenda. Perguntado ao pastor o que aconteceria se não soubessem ele disse: "Fica sem comer (risos). E se esquecer, sai da fila, vai ler a Bíblia e volta para lanchar. Fico atento para que não fiquem repetindo os versículos que já leram."

Marcenaria

A frase: "Mente vazia,oficina do diabo" não parece ter chegado ao projeto. A marcenaria é usada por praticamente tidos do projeto,quer queiram ou não, sempre há algo a fazer. Carrinhos, aviões, helicópteros, tratores e muitos outros objetos fabricados pelo projeto encheram os meus olhos pela qualidade e amor empregados em cada peça.
"Saímos para vender nas ruas. Antigamente íamos a Praia de Iracema (reduto artesanal de Fortaleza-CE), mas a prefeitura nos obrigava a recolher tudo pois não tínhamos cadastro como ambulantes." Conta o Pr. Pedro.

Aqui fica uma sugestão e crítica para as Prefeituras (não só a de Fortaleza-CE), projetos sociais que acolhem dependentes químicos deveriam ter um cadastro simples na prefeitura para que estes pudessem vender os seus trabalhos pelas praças e ruas da cidade e se manterem. Ninguém quer ficar rico com a vendas desses produtos, querem é mostrar para a sociedade que "os excluídos" podem e merecem ter o seu trabalho reconhecido.

As despesas

Só de aluguel, energia e água o projeto gasta em média cerca de R$ 2.300,00. Todos tem quatro refeições por dia e somente 20% dos internos pagam o seu tratamento. Lembrando que o projeto é gratuito, mas a família destes é que se dispuseram a pagar pelo acolhimento.
Uma outra questão me chamou a atenção. Há muitas árvores no projeto e notei que não havia ali bananeiras, pois rica em vitaminas poderia ser um complemento à alimentação. O Pr. Pedro então me disse que bananeiras necessitam de muita água e como estamos com esta falta de água preanunciada ele prefere não plantar. Até poderia tê-las se a bomba for trocada. A que está no projeto está velha e só uma nova poderia ajudar. Em média, a bomba d`água com a vasão correta custa R$ 200,00.

O bode "Dedé"

Arisco, o bode "Dedé" fica agitado quando alguém se aproxima de sua "casa". Visivelmente queria brincar com o Pr. Pedro que disse que recentemente teve que sacrificar um carneiro para alimentar os jovens do projeto. E foi neste momento que ele olhando para o bode "Dedé" disse: "Mas ele não. Se um dia eu tiver que sacrificá-lo, então vai ser muito difícil, mas Deus não vai deixar isto acontecer."

Lixo ou doações?

Uma montanha de livros jogados em uma espécie de depósito mostra a vontade do Pr. Pedro em fazer mais pelos jovens que ali estão. Livros doados já bastante velhos muitas vezes chegavam e alimentavam o coração do pastor em ter uma biblioteca no local. Um sonho que a realidade nua e crua ainda não deixou acontecer.
"Quando ligavam para nós dizendo que tinham uma doação para o projeto, fretávamos um carro e íamos lá buscar. Quando então me ligavam e diziam: ' Pastor, o guarda roupas não tem portas, o que fazemos?' Eu dizia que trouxessem mesmo não tendo muita serventia para nós. Então o guarda roupas acabava virando brinquedo na marcenaria ou lenha para a cozinha." Comenta o Pr. Pedro.

Computadores sem placa-mãe, estantes enferrujadas não são doações, isto é lixo. O projeto não é de reciclagem mas as pessoas acreditam - muitas inocentemente, que estarão ajudando enviando lixo para projetos sociais que cuidam de dependentes químicos.

O trabalho e o amor

Além dos brinquedos produzidos pelo projeto, eles também vendem desinfetantes pelas ruas do bairro e adjacências. Muitas vezes preferem receber em troca alimentos do que o dinheiro.
"O mais impressionante irmão Lucas é que tem pessoas aqui na comunidade que as vezes só tem um pouco de arroz e mesmo assim do pouco que tem batem aqui na porta para ajudar."

Um fato curioso me deixou triste com o povo de Deus. Sim, estes mesmos que vão para as igrejas com as suas bíblias nas mãos e que se dizem evangélicos. Próximo ao projeto há uma casa espírita e esta - quando pode, doa alimentos em fardos para o projeto Emanuel. Veja só, nas igrejas é mais difícil de se conseguir uma agulha, mas aqueles que "chamamos de perdidos" fazem mais pelo projeto do que os próprios irmãos da redondeza.

Papo aberto

Fiz algumas perguntas aberta para o pastor Pedro Nascimento e tentarei transcrever o mais fiel possível aqui.

Qual o seu maior sonho?
Para eu morrer tranquilo? A compra deste sítio para uma casa permanente pois eu sei que, se eu morrer, acaba tudo.
Nota: O sítio será posto a venda por R$ 350.000,00 em breve.

Como foi a sua conversão?
Passei 12 anos viciado em maconha e outras drogas. Morei na rua por mais ou menos 02 anos e dormia em cima das paradas (abrigo) de ônibus em Fortaleza.

Um dia vi que o meu futuro estava muito feio. Decidi que era hora de mudar mas não tinha forças. Então em uma mesa de bar, um jovem me entregou um panfleto e começou a me evangelizar me convidando depois para assistir a um culto. Fui depois, e me converti. Fui obreiro, diácono, co-pastor e hoje pastoreio duas igrejas. E a igreja que eu me converti é a igreja que hoje sou pastor.

Quem quiser conhecer e ajudar o projeto
Centro de Recuperação de Dependentes Químicos Emanuel
Rua: Fé e caridade, 230 - Pavuna, Pacatuba, Ceará.
Ponto de referência: Rua do Posto de Saúde.
Contato: 85 8651 5697 - Pastor Pedro Nascimento.

Veja as fotos





Mais fotos


https://plus.google.com/photos/113773364336655151216/albums/5978474939396395169

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá,

Obrigado por comentar. Iremos avaliar o seu comentário para depois publicá-lo ou não. Não temos ninguém que faça a correção dos nossos textos, portanto, caso encontre algum erro, por favor, entre em contato que teremos o maior prazer em corrigi-lo.

Que Deus o abençoe!