segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Os Pais da Igreja contra a imaculada conceição de Maria


Em 8 de Dezembro de 1854, o papa Pio IX emitiu uma bula na qual definiu “a doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria foi preservada imune de toda a mancha da culpa original no primeiro instante da sua concepção por singular graça e privilégio de Deus omnipotente, em atenção aos méritos de Cristo Jesus Salvador do género humano, está revelada por Deus e deve portanto ser firme e constantemente crida por todos os fiéis" (Pio IX, Bula Ineffabilis Deus, 8 de Dezembro de 1854).

A coisa é tão séria que é levada até as últimas consequencias. O Terceiro Catecismo Católico afirma que quem não quiser crer nisso, será herege:
"É de fé que a santíssima foi concebida sem pecado original, porque esta verdade foi solenemente definida pelo Sumo Pontífice Pio IX em 8 de dezembro de 1854 e quem não quiser crer, será herege"(Terceiro Catecismo, Editora Vozes, pág.190)

Ainda assim, a própria Enciclopédia Católica admite que não há “nenhuma prova direta, ou categórica e estrita do dogma que possa ser encontrada nas Escrituras” (The Catholic Encyclopedia, Volume 7, 1913, pág.675). Se os próprios católicos admitem que não há nenhuma prova Escriturística a este respeito, o nosso próximo passo será conferirmos se, pelo menos, os Pais da Igreja criam neste dogma mariano. Porém, quando analisamos as páginas dos mais importantes Pais, constatamos exatamente o contrário.

Orígenes (185 – 253), por exemplo, disse:
"Maria pertence ao número daqueles de quem Cristo profetizou que haviam de se escandalizar nEle, como os apóstolos, ela também ficou perturbada com a catástrofe da cruz; e era necessário que pecasse assim em certa medida, para que também ela fosse remida por Cristo" (Orígenes de Alexandria, Homília 17, sobre Lucas)

Como vemos, Orígenes cria que Maria pecou e que, por isso, teve que ser remida por Cristo. A mesma coisa podemos encontrar nos escritos de outro famoso autor cristão do século II, Tertuliano (160 – 220), que disse:
"Porque somente Deus é sem pecado, e o único homem sem pecado é Cristo, desde que Cristo é também Deus” (Tertuliano, “De Anima”, XI)

Para este grande teólogo do século II, somente Deus é sem pecado, e, consequentemente, Cristo, pois Jesus é Deus. A não ser que ele também considerasse Maria como sendo uma deusa, fica óbvio que ela também cometeu pecado, pois Deus é o único sem pecado. João Crisóstomo (349 – 407) foi além e disse:
"Nas bodas de Caná, Maria foi molesta e ambiciosa" (João Crisóstomo, Homília sobre Mt 12:48)

Desde que consideramos a moléstia e a ambição como pecados, fica evidente que João Crisóstomo era outro que cria que Maria pecou. E essa não foi a única vez em que ele escreveu sobre isso. Em outra homília, ele disse que Jesus se preocupava com a salvação da alma de sua mãe:
"Porque embora Ele tivesse cuidado em honrar a sua mãe, muito mais Ele se preocupava com a salvação da alma dela" (João Crisóstomo, Homília Sobre João 2:4)

Se Maria fosse imaculada e sem pecado, não haveria razões em se preocupar com a salvação dela, pois um ser sem pecado não pode tropeçar na fé. Porém, o que Crisóstomo nos diz evidencia mais uma vez a sua crença de que Maria era humana e pecadora como todos nós, e por isso necessitava de salvação e de um Salvador.

Ambrósio de Milão (340 – 397) foi outro que declarou que Cristo foi o único que jamais experimentou o pecado:
"De todos os homens nascidos de mulher, o Santíssimo Senhor Jesus foi o único que não experimentou o contato terrestre por causa da novidade de seu nascimento imaculado"(Ambrósio de Milão, “Do Pecado”)

Mais do que isso, na citação de Ambrósio fica clara a afirmação de que o nascimento imaculado de Cristo era uma “novidade”. Ora, se Maria também tivesse nascido imaculada antes de Cristo, tal coisa não seria algo novo, pois já teria acontecido antes (com Maria). Este é outro fator importante que demonstra mais uma vez que os Pais da Igreja não tinham em mente a imaculada conceição de Maria.

Cirilo de Jerusalém (315 – 386), que foi um famoso e importante bispo do século IV, afirmou:
"Nós dizemos algo do que se encontra escrito; mas não sabemos quanto perdoou aos anjos, pois a eles também perdoou, já que somente um está livre de pecado, Jesus, que nos limpou dos nossos pecados" (Catechetical Lectures, Lecture 2, Section 10)

Para ele, é somente um que está livre do pecado, e este "um" não é Maria, é Jesus! Portanto, se somente aquele que nos limpou de nossos pecados é que está livre de pecado, e este alguém é Jesus, segue-se que Maria não estava livre de pecado. A exceção é somente Cristo, não Maria. Quem é imaculado é somente um, e não dois!

Para a surpresa de muitos, não são apenas os Pais da Igreja que em sua maioria rejeitavam este dogma, mas até mesmo doutores da Igreja, como é o caso de Bernardo de Claravaux (1090 – 1153), que disse:
"Excetuando Cristo, todos os descendentes de Adão devem dizer: 'fui concebido em iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe'" (Bernardo de Claravaux, Epístola 174, versos 7,8)

Ele não diz “excetuando Cristo e Maria”, mas apenas Cristo. Portanto, Maria, como uma descendente de Adão, também foi concebida em pecado, de acordo com a opinião deste doutor da Igreja. Outro famoso santo e doutor da Igreja, Anselmo (1033 – 1109), foi mais um a declarar que Cristo foi o único que nasceu sem pecado:
“Pois assim como a natureza humana, estando incluída na pessoa de nosso primeiros pais, foi neles totalmente vencida pelo pecado (com a única exceção do homem a quem Deus, sendo capaz de criar de uma virgem, foi igualmente capaz de salvar do pecado de Adão), assim também, se toda ela não tivesse pecado, a natureza humana teria sido totalmente conquistada” (Cur Deus Homo, livro I, cap. XVIII)

A única exceção à humanidade vencida pelo pecado foi Cristo, ninguém mais. Em sua própria obra sobre o pecado original, Anselmo novamente faz questão de dizer que todos os filhos de Adão são pecadores, com a única exceção de Cristo:

"Em seus escritos (Paulo) declara que todos os filhos de Adão, exceto Cristo, são pecadores e filhos da cólera" (Anselmo, “Da Concepção Virginal e Do Pecado Original”, XXII)

Anselmo nos diz claramente que a única exceção ao pecado de Adão foi Cristo, o que é uma clara negação da imaculada conceição de Maria. Mas não para por aqui. O próprio Tomás de Aquino (1225 – 1274), considerado por muitos o maior doutor da Igreja Católica na Idade Média, foi outro que se posicionou ferrenhamente contra a imaculada conceição. Ele disse claramente:
"A bem aventurada virgem contraiu o pecado original" (Tomás de Aquino, “Suma Teológica”, Parte III, Questão XXVII, Artigo II)
E diz também que, se Maria nunca houvesse sido contagiada pelo pecado original, isso iria derrotar a dignidade de Cristo!
“Respondemos que a santificação da bem-aventurada Virgem não pode entender-se antes de receber a vida... se a bem-aventurada Virgem houvesse sido santificada de qualquer modo antes de receber a vida, nunca teria incorrido na mancha do pecado original; e, portanto, não teria necessitado da redenção e da salvação, que é por Cristo, de quem se diz: ...porque ele salvará o seu povo dos seus pecados (Mat. 1.21). Mas é inconveniente que Cristo não seja o salvador de Todos os homens como se diz (I Tm. 4.10). Logo, segue-se que se a santificação da bem-aventurada Virgem nunca houvesse sido contagiada do pecado original, isto derrocaria a dignidade de Cristo, que não necessitou ser salvo, como salvador universal, pois a maior pureza seria a da bem-aventurada Virgem” (Tomás de Aquino, Suma Teológica, art. II, parte III, pergunta XXVII)

Portanto, fica claro que nem o próprio Tomás de Aquino concordava com este falso ensino da Igreja de Roma, criado no século XIX. E, para terminar, pasme: nem sequer os próprios papas criam nessa aberração doutrinária! Isso mesmo: papas como Leão I e Gelásio I negaram explicitamente a imaculada conceição de Maria. Leão I (400 – 461), por exemplo, disse:
"Assim como nosso Senhor não encontrou a ninguém isento do pecado, assim veio para o resgate de todos" (Leão I, Bispo de Roma, +461, Sermão 24, “In Nativitati Domini”)

“Apenas o Senhor Jesus Cristo, entre os filhos dos homens, nasceu imaculado, porque apenas Ele foi concebido sem a associação e a concupiscência da carne" (Papa Leão I, Sermão 25)

Apenas o Senhor Jesus Cristo, ninguém mais! Se o Senhor tivesse encontrado Maria isenta do pecado, então ele não teria escrito que Ele não achou ninguém isento do pecado!

Outro bispo de Roma, Gelásio I (410 – 496), declarou:
"Nada do que estes nossos primeiros pais produziram por sua semente foi isento do contágio deste mal, que ele contraíram pela prevaricação” (Gelásio I, Bispo de Roma, Epistola Ad Episcopos Per Lucaniam Brities Et Siciliam Constitutos)

O papa Gregório Magno (540 – 604), bispo de Roma entre 590-604 d.C, foi outro a afirmar que somente Cristo nasceu santo. E este único santo foi quem salvou toda a humanidade corrupta:
"Apenas ele [Cristo] nasceu santo, para que Ele pudesse superar a condição da natureza corrupta, não sendo concebido segundo a maneira dos homens" (Papa Gregório I, Homília “In Nativitati”)

Tendo em vista tudo isso, vemos que, de acordo com a regra expressa no Terceiro Catecismo Católico, podemos considerar como “hereges” não somente os protestantes, mas também:

-Os Pais da Igreja: Orígenes, Tertuliano, João Crisóstomo, Ambrósio de Milão, Cirilo de Jerusalém, entre outros.

-Os doutores da Igreja: Pedro Lombardo, Alexandre de Hales, Boaventura, Alberto Magno, Bernardo de Claravaux, Tomás de Aquino, etc.

-Os papas: Leão I, Gelásio I, Gregório I, Inocêncio III e muitos outros.

Vale ressaltar que estes são apenas alguns dos inúmeros Pais da Igreja, doutores da Igreja e papas que ao longo da história confirmaram documentalmente a sua descrença naquilo que hoje é o dogma da imaculada conceição de Maria. Portanto, são todos hereges. E lugar de herege é no inferno, segundo este mesmo catecismo católico.

Gyordano Montenegro resumiu bem este quadro, em seu blog “Cristianismo Puro”, ao fazer menção da descrença de Anselmo neste dogma:
“A Igreja Romana sustenta que sua doutrina não muda. Ela afirma retirar sua doutrina da Sagrada Tradição, e baseada nessa Tradição (bem como nas Escrituras e no Magistério) ela define o que é dogma e o que é heresia. Ora, segue-se que Anselmo, mil anos atrás, mesmo sendo bispo e doutor da Igreja, não conhecia coisa alguma dessa “Tradição” de que Maria fora “concebida sem pecado”. Repito: Hoje, todo e qualquer bispo sabe sobre a Imaculada Conceição de Maria. Anselmo não. É claro que ser “bispo e doutor da Igreja” não garante que o que ele escreve seja infalível. Mas isso não desfaz a acusação de “heresia”. Ário só se tornou herege após o Concílio de Niceia? Negar a Imaculada Conceição só se tornou heresia após 1854? O que antes a Tradição e o Magistério permitiam hoje é proibido? Então, temos uma situação bastante interessante: se um católico romano hoje conscientemente negar a Imaculada Conceição, é declarado herético. Mas a citação de Anselmo claramente nega a Imaculada Conceição, e ele é reconhecido como santo e doutor da Igreja. Quanta coerência!” (1)

Sim, encontrar incoerências no catolicismo é tão difícil quanto encontrar água no Oceano Pacífico.

Paz a todos vocês que estão em Cristo, o nosso único Cordeiro imaculado.

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)

[1] http://cristianismopuro.blogspot.com.br/2012/05/imaculada-conceicao-e-santo-anselmo.html

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